segunda-feira, 27 de maio de 2024

Um Winchester Para Ringo - Parte Final

O Acerto de Contas
Chacais do deserto são animais perigosos. Ele rondam sua presa por horas, algumas vezes por dias, para depois dar o ataque final. Ringo cavalgando pelo deserto logo percebeu que estava sendo seguido por um chacal. Não o animal, que ele às vezes matava nessas jornadas, mas sim pelo forasteiro que havia lhe vendido o rifle Winchester. Agora não havia mais dúvidas. Aquele sujeito estava lhe perseguindo. Ringo percebeu, pelo canto do olho, sem demonstrar que o tinha visto, que o tal chacal de duas pernas não era lá muito experiente nesse tipo de perseguição. Ele ficava perto demais da sua presa. Tão perto que acabava sendo descoberto.

Ringo parou e desceu de seu cavalo. Já era cinco da tarde. Ele fingiu que iria começar a procurar galhos e gravetos para fazer uma fogueira. Era uma encenação. Ringo na verdade estava providenciando uma armadilha. Ele iria dar a entender a seu perseguidor do deserto que ele estava calmamente descansando. Iria até mesmo fingir estar dormindo. Quando seu algoz surgisse, seria o seu fim.

E assim foi. Anoiteceu e Ringo comeu um pouco e ficou ali ao lado da fogueira, completamente sozinho. Suas armas estavam todas à mão, engatilhadas, mas parecia que Ringo estava despreocupado, aproveitando sua caça. Então ele ouviu um pequeno ruído. Era nitidamente alguém se aproximando. Ringo havia arrumado um lugar para pular, um ponto cego no meio da escuridão, assim que o forasteiro se aproximasse. Quando ele viu que o sujeito estava próximo demais, ele pegou seu copo de café e foi se afastando lentamente da luz do fogo. E então, como havia planejado, desapareceu na escuridão.

Quando o sujeito chegou na fogueira, com a arma em punho, não encontrou mais Ringo. Ele estava atrás dele, já com o rifle apontado para sua cabeça. Assassinos profissionais sabem destrinchar situações perigosas como essa. Então o forasteiro sentiu o cano do rifle Winchester de Ringo contra sua cabeça.

- Levante as mãos após jogar seu revólver no chão... - Ordenou Ringo, já com o controle da situação.

- Calma, eu...

- Agora! Jogue a arma no chão, caso contrário vou estourar seus miolos nos próximos segundos...

Não havia como reagir. Ele estava completamente rendido. Então jogou a arma fora. Que situação! Desarmado e à mercê de um matador. Francis McCarthy jamais poderia imaginar que seus planos fossem dar dão errado. O velho oeste tinha suas próprias artimanhas, que ele seguramente não conhecia. Ringo pegou a arma de Francis. Depois mandou ele se virar de costas.

- Espere, não me mate! Está havendo um erro... - Nitidamente ficou com medo de levar um tiro pelas costas.

- Cale-se! Só fale quando eu perguntar algo. Sua vida agora está em minhas mãos. - Bom, se havia uma verdade, era essa. Realmente Ringo poderia acabar com a vida dele quando bem entendesse. Porém Ringo também era um profissional frio em busca de respostas. E ele as teria ali, pelo bem ou pelo mal.

 - Ok, comece a falar! Quem é você? De onde me conhece?

- Eu nunca ouvi falar de você...

Ringo não hesitou e deu um tiro certeiro no joelho do forasteiro. Um grito foi ouvido ao longe. Ele caiu ao chão.

- Ok, seu idiota. O próximo tiro pode pegar uma artéria! E você morrerá, com absoluta certeza.

- Eu já lhe disse, eu não te conheço - o sangue misturado ao suor lhe deu uma palpitação no coração que Francis jamais poderia imaginar... ele sentia que seu fim estava próximo.

- Não, tudo bem... - Ele levantou a mão ao perceber que Ringo engatilhava seu Colt.

- Eu sou filho de um homem que você matou...

- Quem era esse homem?

- Um político de... - Ele não precisou terminar a frase, Ringo sabia de quem se tratava...

- Olha, eu faço meu serviço. Nada pessoal. Você deveria procurar o cliente que me contratou. Eu sou apenas a mão que puxa o gatilho. O verdadeiro assassino de seu pai é outra pessoa... - Assim, de forma bem estranha, Ringo via seu "ofício" de matar.

- Seu desgraçado... você matou meu pai... desgraça...

Não houve tempo para terminar a frase. Ringo acertou um tiro certeiro na cabeça de Francis. Ele caiu pesadamente na areia do deserto e deu seu últimos suspiro... estava morto!

Ringo olhou a cena. Colocou seu revólver de volta ao seu cinturão. Aquele tipo de coisa não o agradava. Era um efeito colateral de ser um matador profissional. Algumas vezes pessoas surgiam para uma vingança. Ringo não se abalava, estava preparado sempre para esse tipo de situação. Ele parou por alguns segundos diante do cadáver de Francis, pegou um pouco de areia e jogou por cima de seu rosto, tal como se fosse uma espécie de funeral improvisado no meio do deserto.

O corpo de Francis ficaria ali para sempre. Em pouco tempo começaria a servir de alimento para os animais da região, para os abutres. Seria encontrado algum dia? Naquele meio do nada, dificilmente. Seria dado como desaparecido. Jamais seria encontrado. O deserto seria seu lar de repouso eterno.

Pablo Aluísio.

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