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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Os Brutos Também Amam

Quando eu era garoto, ouvi certa vez meu pai dizer que o filme "Os Brutos Também Amam" (Shane - 1953) era um faroeste diferente. Aquela opinião ficou anos martelando em minha cabeça. E, quando alguns anos mais tarde, assisti ao famoso western, concordei com meu pai. O clássico, baseado no best-seller de Jack Schaefer, é um dos maiores e mais emocionantes faroestes já produzidos. E o sucesso não foi à toa. "Shane" é um faroeste realmente diferente e emocionante que foi pensado e carinhosamente engendrado em cima de valores morais raros para aquela época, como: amizade, lealdade e honra. O início do filme é de uma beleza rara, onde a natureza exuberante faz as honras da casa, desfilando, um a um, os astros do filme. O silencioso Shane (Alan Ladd) abre o clássico cavalgando, lentamente, sob as bençãos e a beleza indizível da cordilheira de Grand Tetons no Vale do Wyoming. O forasteiro, solitário e caladão, chega bem devagar ao pequeno rancho parnasiano da família Starrett, tendo como testemunha o pequeno par de olhos curiosos do pequeno Joey Starrett (Brandon De Wilde). Shane é calado e de poucas palavras - ele fala apenas o que interessa deixando sempre no ar um duvidoso passado do qual está claramente tentando esquecer. Apesar da enorme introspecção e doses cavalares de mistério, Shane só quer um pouco de água, comida e descanso, em troca de trabalho.

Aos poucos, o pistoleiro, semelhante a um diácono, vai conquistando a amizade e a confiança da família Starrett, mas principalmente do pequeno Joey que se encanta pelo forasteiro. Em pouco tempo, Shane já é quase um membro da família, ajudando o patriarca Joe Starrett (Van Heflin) nos trabalhos mais pesados, e também nas horas vagas, ajudando o pequeno Joe a atirar. O carisma e o charme do pistoleiro vão encantando Marian Starrett (Jean Arthur) esposa de Joe que aos poucos vai manifestando pelo pistoleiro, um misto de paixão, admiração e curiosidade. O diretor George Stevens conduz com maestria essa troca de olhares - e até de sentimentos - porém, sempre preservando o sentimento de honestidade e lealdade de Shane para aquela pequena família que o acolheu, mas principalmente para seu amigo, Joe Starrett. O filme jorra lirismo por todos os poros.

Todo esse céu de brigadeiro, no entanto, começa a mudar quando a família Starrett recebe a visita de Rufus Ryker (Emile Meyer) e seu bando. Rufus, que é o Barão do gado da região, tenta convencer Joe a vender suas terras e ir embora. Porém, quando percebe que Joe tornara-se amigo de um pistoleiro (Shane), ele e seu bando vão embora. A partir daí o conflito entre o Barão do gado, Rufus Ryker, e os colonos, explode. O Barão, para garantir o seu monopólio do gado e sentindo-se ameaçado por Shane, manda buscar na cidade de Cheyenne o pistoleiro frio e sanguinário, Jack Wilson (Jack Palance). Shane então, resolve despir-se de suas vestes de homem bom e de família e começa a mostrar a sua cara. Os acontecimentos e escaramuças da bandidagem, o colocará frente a frente com o seu velho conhecido e implacável Jack Wilson num duelo inesquecível. O final é emocionante e mostra toda a categoria de um diretor que, alguns anos depois, dirigiria três mitos: James Dean, Liz Taylor e Rock Hudson, no clássico, "Assim Caminha a Humanidade". E, com relação a Shane...meu pai tinha toda a razão.

Os Brutos Também Amam (Shane, EUA, 1953) Direção: George Stevens / Roteiro: A.B. Guthrie Jr, Jack Sher baseado na obra de Jack Schaefer / Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Jack Palance, Van Heflin, Ben Johnson, Elisha Cook Jr., Brandon de Wilde / Sinopse: Shane (Allan Ladd) é um cowboy errante e solitário que chega num pequeno rancho e conquista a amizade dos moradores locais, incluindo uma bela jovem e um garoto.

Telmo Vilela Jr.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

No Tempo das Diligências

Esse foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica que uniu dois dos maiores mitos dos filmes de faroeste: John Wayne e John Ford. Partindo de uma premissa até simples o roteiro consegue desenvolver extremamente bem todos os personagens mostrando que um grande filme não precisa necessariamente ter um argumento complexo ou complicado, pelo contrário. O enredo, olhando sob esse ponto de vista, é extremamente eficiente: uma diligência com sete passageiros resolve enfrentar uma viagem das mais perigosas, atravessando um território hostil dominado pelo bando Apache liderado pelo famoso chefe Gerônimo. De forma muito talentosa John Ford desenvolve cada passageiro da melhor forma possível. E cada um deles é um retrato de tipos que fizeram parte da colonização rumo ao velho oeste. Estão lá o médico Alcoólatra interpretado por Thomas Mitchell (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por seu desempenho), a prostituta Dallas (Claire Trevor) banida da cidade por motivos óbvios pela liga da moralidade, o jogador trapaceiro Hatfield (John Carradine), o Xerife Curley (George Bancroft) e finalmente o pistoleiro foragido, às do gatilho, que é procurado pela lei, o famoso Ringo Kid (John Wayne). Todos representando tipos comuns do oeste americano. 

O filme também tem todas as características que criaram a fama do cinema de John Ford. A produção foi rodada no cenário mais famoso de sua filmografia, o Monument Valley. Foi a primeira vez que Ford filmou no local e ficou tão fascinado pelo resultado na tela que resolveu voltar lá inúmeras vezes nos anos seguintes, como por exemplo, em "Paixão dos Fortes", "Sangue de Heróis", "Legião Invencível", "Caravana de Bravos", "Rio Bravo", "Rastros de Ódio", "Audazes e Malditos" a até mesmo em seu último faroeste, "Crepúsculo de Uma Raça". O personagem Ringo Kid foi escrito para ser estrelado inicialmente pelo ator Gary Cooper. Já a prostituta Dallas foi criada para ser interpretada pela famosa atriz Marlene Dietrich.

Curiosamente ambos foram descartados do projeto por não terem acertado um cachê adequado ao orçamento do filme. Ford assim escalou John Wayne e Claire Trevor para os personagens, algo que consideraria anos depois um grande acerto pois os dois estão muito bem em cena. Também visando economizar o diretor acabou contratando índios Navajos para a formação do bando Apache de Gerônimo. Tantas economias e cortes de custo acabou virando uma marca registrada da produção que apesar de ser bem simples e direta também é muito eficiente e marcante. Hoje "No Tempo das Diligências" é considerado um dos grandes clássicos do gênero western, de forma muito merecida aliás.

No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939) Direção: John Ford / Roteiro: Ernest Haycox, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, George Bancroft / Sinopse: Diligência com sete passageiros tenta atravessar uma região dominada pelo violento e hostil bando do famoso chefe Gerônimo. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Thomas Mitchell) e melhor canção. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte (Alexander Toluboff), fotografia em preto e branco (Bert Glennon) e Edição (Otho Lovering e Dorothy Spencer). Vencedor do prêmio de melhor direção (John Ford) pela associação dos críticos de cinema de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.