terça-feira, 13 de agosto de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 9

"Na Pista do Traidor" (Riders of Destiny, EUA, 1933) foi anunciado pelo estúdio como "um dos grandes filmes de western do ano". Não era para menos. Embora atuasse em outros gêneros cinematográficos o fato é que os filmes de faroeste estrelados por John Wayne já tinham se tornado um chamariz de bilheteria por todos os cinemas americanos. Ele podia até mesmo se considerar um astro tal como Tom Mix, seu grande espelho e fonte de inspiração nessa fase inicial de sua filmografia. Esse western de matinê foi dirigido por Robert N. Bradbury, diretor com quem Wayne sempre se deu bem. A carismática atriz Cecilia Parker foi escalada para ser sua parceria no filme. Revistas de fofocas populares da época diziam que o grandalhão Wayne estava tendo um caso amoroso com sua estrelinha loira, mas isso nunca foi confirmado pelo ator.

Seu filme seguinte, "Justiça Selvagem" (Sagebrush Trail, EUA, 1933) apelava mais para as cenas de ação. John Wayne interpretava um personagem chamado John Brant, um fugitivo da lei, acusado sem provas, que fugia para o velho oeste em busca da liberdade. Adotando o nome de "Smith" ele procurava se esconder do longo braço da lei que estava sempre em seu encalço. Essa produção da Paul Malvern Productions (uma empresa cinematográfica que iria à falência em poucos anos) contava com excelentes cenas de perseguição, usando inclusive um velho trem de carga. "Armando o Laço" (West of the Divide, EUA, 1934) foi o primeiro filme do ator a ser lançado no ano de 34. Novamente Wayne voltava a trabalhar com o cineasta Robert N. Bradbury. Se no filme anterior ele era um fugitivo perseguido, agora ele seria o perseguidor, nesse faroeste muito movimentado onde interpretava um homem em busca de vingança. Após o assassinato de seu pai ele passava a perseguir os criminosos, usando uma nova identidade, se infiltrando na quadrilha de bandoleiros. O elenco ainda contava com Virginia Brown Faire e George 'Gabby' Hayes. Lançado nas férias escolares foi outro grande sucesso de bilheteria de sua carreira.

Todos os elementos que fizeram o sucesso e a fama de John Wayne já podiam ser encontrados no filme "A Lei do Gatilho" (Blue Steel, Estados Unidos, 1934). Embora o ator ainda adotasse influências do astro Tom Mix, inclusive usando de parte de seu figurino, com aquele grande chapéu branco, já se podia notar que ele havia encontrado seu próprio caminho, seu próprio estilo. Nesse faroeste John Wayne interpreta um agente federal chamado John Carruthers. Ele acaba presenciando um roubo, um assalto, mas sem armas nada pode fazer. O pior é que o xerife da cidade onde ocorreu o crime passa a suspeitar dele como um cúmplice da quadrilha de criminosos. Dirigido pelo cineasta Robert N. Bradbury, que já havia trabalhado muitas vezes antes com Wayne, ainda trazia no elenco o ator característico George 'Gabby' Hayes, aquele velhinho de fala engraçada e boca sem dentes que Wayne iria fazer questão de levar para trabalhar ao seu lado nos filmes de John Ford. Muitas vezes usado como alívio cômico, ele costumava roubar as cenas em que aparecia por causa do humor. Era aquele tipo de ator naturalmente engraçado e divertido que não precisava fazer força para tirar risadas do público.

O próximo filme de John Wayne foi mais um western. Intitulado "O Torneio da Morte" (The Man from Utah, Estados Unidos, 1934) era mais um trabalho em parceria com o diretor Robert N. Bradbury. Anos depois ele lembraria que os estúdios economizavam o máximo possível de custos, por isso era comum a produção de três a quatro filmes em série, um atrás do outro, geralmente com a mesma equipe técnica, figurinos, cavalos, cenários, etc. Lucrar com economia era a ordem do dia para muitos produtores da época. Nesse filme havia como ponto central um importante rodeio. John Wayne interpretava um dos competidores. Ele era muito bom e tinha o melhor cavalo da competição, o que fazia com que os vilões elaborassem um plano para prejudicá-lo, inclusive tentando envenenar seu animal. O faroeste vencia pela simpatia do protagonista e pelas ótimas cenas de ação e rodeio. E quando chegou nos cinemas se tornou rapidamente mais um sucesso com o nome de John Wayne nas marquises.

Pablo Aluísio.

James Stewart e o Western - Parte 1

James Stewart foi a prova que o homem comum também poderia se tornar um astro em Hollywood. Ele não tinha a altura e a beleza de um Rock Hudson, nem a coragem de um John Wayne, mesmo assim brilhou nas telas e teve uma filmografia tão ou mais rica do que esses dois mitos da era de ouro do cinema americano. Na verdade Stewart era um sujeito bem simples, comum, interiorano, que teve a rara sorte de trabalhar com alguns dos melhores cineastas de todos os tempos em filmes clássicos que jamais serão esquecidos. Provavelmente o diretor que o tornou imortal foi Frank Capra. Quando Stewart chegou em Hollywood, vindo do interior, sendo filho de um dono de lojas de ferragens, ele não encontrou as portas dos estúdios abertas para ele.

Na verdade Stewart amargou um bom tempo como figurante e depois como coadjuvante em filmes de pouca expressão. Sua sorte mudou quando Capra viu nele justamente aquela que era sua maior marca registrada: o jeito e a imagem do homem comum, do trabalhador operário de bom coração. Eram os tempos da grande depressão, a economia americana estava arruinada, com muito desemprego e pobreza. Para o otimista Capra a única forma de levantar a nação era levantando sua autoestima, sua moral. Por isso ele resolveu filmar uma série de roteiros que traziam mensagens positivas ao povo americano, sempre levando seu ânimo, trazendo uma carga única de esperança. Para interpretar seus protagonistas Capra não poderia ter encontrado ator mais ideal. Assim James Stewart começou a virar um astro com "Do Mundo Nada se Leva", uma verdadeira ode ao pensamento positivo. Depois vieram mais clássicos absolutos como "A Felicidade Não Se Compra" e "A Mulher Faz o Homem". Todos esses filmes são verdadeiras obras primas do cinema.

Em busca da mesma empatia outros mestres do cinema resolveram escalar James Stewart em seus filmes, especialmente o mestre do suspense Alfred Hitchcock. Sempre que surgia o personagem do cidadão comum, honesto e trabalhador, que se via numa situação excepcional, o velho Hitch telefonava ao ator sabendo se ele estava disponível. "Festim Diabólico", "Janela Indiscreta" (talvez a grande obra prima ao lado de Hitchcock), "O Homem que Sabia Demais" e "Um Corpo que Cai" são obras primas que por si só já valeriam a imortalidade de Stewart na sétima arte. Isso porém foi apenas uma parte de sua carreira, quando interpretava tipos urbanos em tramas de suspense que até hoje seguem insuperáveis.

Por fim, como se já não bastasse realizar tantos clássicos ao lado de Capra e Hitchcock, James Stewart também brilhou no mais americano de todos os gêneros cinematográficos: o Western. Ele foi um dos mais regulares atores do estilo, participando de inúmeras produções com destaque para os filmes que rodou ao lado de John Ford e Anthony Mann. Com esse último tinha uma relação de amizade e ódio. De todos os diretores com quem trabalhou foi o que mais gostou de atuar, segundo suas próprias palavras. Certamente ao lado de Mann ele não chegou ao ponto de estrelar filmes tão importantes como "O Homem que Matou o Facínora" (considerado um dos dez melhores faroestes de todos os tempos), mas rodou produções que ficaram na memória como "Winchester 73" e "Um Certo Capitão Lockhart". Foi realmente uma dupla inesquecível. Embora tenha concorrido por cinco vezes ao Oscar só foi premiado uma única vez, por "Núpcias do Escândalo". James Stewart faleceu em 1997 deixando uma filmografia realmente inigualável. Provavelmente tenha sido o ator que mais participou de obras primas do cinema ao longo da história. Nesse quesito ele realmente foi único. Nada mal para alguém que se dizia ser apenas um homem comum, com bons sentimentos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

A Lei da Fronteira

Título no Brasil: A Lei da Fronteira
Título Original: Frontier Marshal
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Allan Dwan
Roteiro: Stuart N. Lake, Sam Hellman
Elenco: Randolph Scott, Nancy Kelly, Cesar Romero

Sinopse:
Tombstone é uma cidade infestada de bandidos. Conhecida por ser uma terra sem lei, a região acaba se tornando ponto de encontro de assassinos, assaltantes de trem e facínoras em geral. Aterrorizados, os cidadãos de bem do local resolvem eleger um novo xerife! Para a função terá que ser escolhido alguém realmente rápido no gatilho, que esteja disposto a enfrentar o crime sem medo, pois não será fácil limpar toda aquela sujeira. A escolha acaba caindo nos ombros de Wyatt Earp (Randolph Scott) que está disposto a impor a lei e a ordem novamente na pequena Tombstone. 

Comentários:
Esse é certamente um dos mais clássicos filmes da carreira de Randolph Scott. Não poderia ser diferente, afinal de contas ele interpreta o lendário xerife e homem da lei Wyatt Earp! A junção desses dois mitos não poderia resultar em nada menos do que memorável. Curiosamente, apesar de ser reconhecidamente um dos melhores filmes já feitos sobre o tiroteio do O.K. Corral, o roteiro toma certas liberdades com a história real. Só para citar a mais famosa delas, aqui temos a morte de Doc Halliday (Cesar Romero), que antecede o famoso confronto entre Earp e os bandoleiros no famoso curral de Tombstone. Na história real Doc não morreu como mostrado no filme, pelo contrário, ele vai até o O.K. para enfrentar ao lado de Earp todo o bando de criminosos naquele que, até hoje, é considerado o maior duelo da história do velho oeste. Isso porém não desmerece as qualidades de um western clássico que é extremamente bem realizado. Randolph Scott está perfeito em seu papel e até mesmo Cesar Romero convence plenamente como Doc, o dentista jogador e tuberculoso que se tornou um dos mais conhecidos pistoleiros da mitologia do western americano. Mais um exemplo do talento do subestimado cineasta Allan Dwan. Em suma, um título para se ter na coleção, assim você poderá sempre rever o mito Randolph Scott na pele do mais famoso xerife de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O Pistoleiro do Wyoming

Título no Brasil: O Pistoleiro do Wyoming
Título Original: Wyoming Outlaw
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Republic Pictures
Direção: George Sherman
Roteiro: Jack Natteford, Betty Burbridge
Elenco: John Wayne, Don 'Red' Barry, Ray Corrigan, Raymond Hatton

Sinopse:
Will Parker (Don 'Red' Barry) é um rancheiro do Wyoming que devido ao hostil clima da região acaba perdendo toda a sua safra. Desesperado para alimentar seus familiares ele se une a um bando de ladrões de gado. Após um confronto é capturado e preso mas ele não se dá por vencido e foge da prisão, começando uma verdadeira caçada para capturá-lo. Roteiro levemente inspirado em fatos reais.

Comentários:
Filme da Republic Pictures que conta em seu elenco com o famoso John Wayne. Infelizmente os fãs do Duke não precisam ficar muito eufóricos pois o filme não gira em torno do mais famoso cowboy da sétima arte. Na verdade seu personagem, Stony Brooke, é bem secundário. Quem for assistir a esse filme pensando em Wayne certamente se decepcionará por essa razão. No geral é um filme B, feito especialmente para matinês, muito curtinho e rápido que vai direto ao ponto. É um bangue-bangue tradicional, sem maiores surpresas. O roteiro ainda ensaia um pouco mais de capricho no que diz respeito ao personagem principal, um rancheiro que entra para o mundo do crime por necessidade, mas não vai muito adiante em relação a isso. Wayne surge com um figurino que lembra bastante o ídolo Tom Mix, com um enorme chapéu branco, além de roupas claras, impecáveis para quem vive no velho oeste americano. Enfim, coisas de Hollywood da época. Em suma, um faroeste da velha escola que mesmo sendo de rotina segue sendo lembrado por causa da presença do imortal John Wayne.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Sabata Adeus

Título no Brasil: Sabata Adeus
Título Original: Indio Black, Sai Che Ti Dico: Sei Un Gran Figlio Di...
Ano de Produção: 1970
País: Itália, Espanha
Estúdio: Produzioni Europee Associati (PEA)
Direção: Gianfranco Parolini
Roteiro: Renato Izzo
Elenco: Yul Brynner, Dean Reed, Ignazio Spalla
  
Sinopse:
Sabata (Yul Brynner), o infame pistoleiro vestido de negro, resolve liderar um grupo de bandoleiros na perigosa tarefa de roubar um rico carregamento de ouro proveniente do império austro-húngaro em direção ao México. Para deter os impulsos criminosos de Sabata e seus homens a fortuna passa a ser protegida pelo Coronel Skimmel (Gérard Herter), um militar veterano e linha dura que está determinado a capturar e matar Sabata a todo custo.

Comentários:
Esse é o segundo filme presente no box The Spaghetti Western Collection. Como se sabe o personagem Sabata foi imortalizado nas telas pelo ator Lee Van Cleef em "Sabata, o Homem que Veio para Matar" (1969). Apesar do grande sucesso de bilheteria ele recusou todas as propostas para voltar ao papel. Estava com receios de ficar marcado apenas por um personagem. Assim os produtores tiveram que pensar em um substituto à altura. Resolveram então importar o russo Yuli Borisovich Bryner do cinema americano. Brynner naquela altura já estava consagrado graças a filmes de sucesso que realizou nos Estados Unidos como por exemplo o clássico western "Sete Homens e um Destino". Isso por si só já trazia grande publicidade para o filme. Além disso o fato de interpretar um personagem tão marcante como Sabata chamaria a atenção do público em geral de uma maneira ou outra. De fato o filme fez sucesso, mas também foi alvo de críticas, principalmente por causa de Brynner, acusado de não ter conseguido fazer um grande trabalho com o famoso pistoleiro do western spaghetti. Em minha opinião ele não se saiu mal, o problema é que o público realmente queria reencontrar Cleef do filme original. Tanto que atendendo aos apelos dos fãs Lee Van Cleef finalmente aceitaria fazer novamente Sabata em "Sabata Vem para Vingar" (1971), sua despedida final do personagem. Esse "Sabata Adeus" tem uma excelente produção (o filme foi rodado nos famosos estúdios de Cinecittà em Roma), mas realmente não criou um vínculo maior com seu público. Agora, passados tantos anos, temos uma boa oportunidade para fazer uma revisão mais imparcial sobre os méritos dessa obra cinematográfica.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 4

O diretor Henry Hathaway voltou a pedir ao estúdio que contratasse Randolph Scott para mais um faroeste. Ele havia assinado para trabalhar na direção da adaptação para as telas de cinema do romance de Zane Grey. Em sua visão apenas Scott tinha os atributos para interpretar o personagem principal, um cowboy chamado Chane Weymer. O filme iria se chamar "Wild Horse Mesa" (no Brasil recebeu o título de "Audácia Entre Adversários").

O roteiro desse western era bem interessante, mostrando os conflitos e lutas de um rancheiro que desejava tocar sua vida em uma região inóspita, bem no meio do deserto do Arizona. As filmagens foram feitas em locações desérticas, algo que exigiu muito do elenco e da equipe técnica. Scott ficou bem amigo da estrela do filme, Sally Blane. Essa aproximação (que não passava de simples amizade) acabou caindo nas revistas de fofocas, onde se dizia que os dois atores estavam tendo um caso no set de filmagens. "Pura mentira, mas que ajudava a promover o filme" - relembraria anos depois o próprio ator.

"Wild Horse Mesa" foi sucesso de bilheteria. Ainda hoje é cultuado pelos fãs do gênero western. Um bom filme certamente, embora não fugisse muita da mitologia auto centrada que os estúdios de cinema tinham criado para os filmes de faroeste. Havia o mocinho, a mocinha que seria conquistada, os vilões malvados e, é claro, a exuberância dos cenários naturais. A diferença é que o filme foi dirigido pelo grande e talentoso cineasta Henry Hathaway que iria se notabilizar em Hollywood pela diversidade de filmes que dirigiu. Embora tenha feito também grandes filmes de western, inclusive ao lado de John Wayne, esse cineasta procurava ser o mais eclético possível, passeando por todos os tipos de filmes, sem ficar preso a nenhum gênero.

Algo que Randolph Scott tentou no começo da carreira, embora no íntimo ele soubesse que seu futuro vinha mesmo dos filmes de faroeste. Seu próximo filme demontra bem isso, um dos poucos filmes de terror e suspense da filmografia de Randolph Scott. "Vingança Diabólica" foi dirigido por A. Edward Sutherland, um cineasta inglês que tentava melhorar a qualidade dos filmes de terror nos Estados Unidos. Os ingleses eram considerados mestres no suspense cinematográfico naquela época. "Não deu certo!" - confidenciaria anos depois o ator. "Eu não fui bem nesse filme. Estava deslocado, sem saber muito bem o que fazer! Essa coisa de terror não era a minha área." Ao contrário do faroeste anterior essa fita com ares de cinema noir foi um fracasso de bilheteria, fazendo com que Randolph Scott começasse a se concentrar nos cavalos, nas esporas, nas estrelas de xerife e nos duelos ao pôr do sol. Os filmes de western eram mesmo o seu porto seguro em termos de público e crítica.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Renegado Impiedoso

Após o fim das chamadas guerras indígenas, muitos nativos americanos levaram suas famílias para o deserto impiedoso para tentar levar uma vida pacífica no meio daquele ambiente hostil e selvagem. É o caso de Pardon Chato (Charles Bronson), um apache que vive no meio do deserto com sua família. De vez em quando ele tem que ir até a cidade em busca de provimentos para levar para casa. Para aliviar um pouco o calor decide também ir até o Saloon mais próximo para tomar alguns goles de whisky. Chegando lá acaba sendo hostilizado pelo xerife local. A implicância é de fundo puramente racista. Após uma série de ofensas proferidas o corrupto xerife resolve sacar sua arma o que se revela uma péssima ideia pois Pardon é rápido no gatilho e em legitima defesa mata o homem da lei. Assim que a noticia se espalha um veterano confederado da guerra civil, o capitão Quincey Whitmore (Jack Palance), resolve formar um grupo para ir até o deserto capturar e matar o apache foragido. Recrutando fazendeiros e pequenos proprietários rurais ele parte para uma caçada humana sem tréguas. O que ele não contava é que iria agora entrar em um conflito armado justamente nas terras do índio Pardon, em seu território, o que tornaria tudo muito mais complicado. E para piorar o apache estaria à sua espera, com forte desejo de vingança.

Charles Bronson trabalhou em sete filmes ao lado do diretor Michael Winner, sendo que esse foi o primeiro deles. Esse cineasta logo entendeu que Bronson (que até aquele momento havia desempenhado muitos papéis coadjuvantes) poderia muito bem se adaptar a um tipo de personagem ideal, com poucas falas mas muita ação física. É justamente o que acontece aqui. O ator tem apenas duas linhas de diálogo o filme inteiro mas em compensação protagoniza várias cenas de ação no meio daquela paisagem árida e rústica. Em ótima forma física, Bronson começa a liquidar um por um seus perseguidores, alguns com requintes de crueldade extrema. O filme aliás é bem mais violento do que os faroestes de sua época o que fez a produção ter alguns problemas com a censura que ameaçou só o liberar para uma faixa etária mais elevada (acima de 18 anos). Há uma cena de estupro coletivo que causou muitos problemas para o estúdio na época. Só após vários cortes é que o filme finalmente foi liberado para exibição para maiores de 16 anos. Além da violência o filme também se destacava pelo bom elenco. Charles Bronson está completamente convincente como o apache fugitivo e o cenário do deserto acaba também virando um personagem vivo dentro da trama. Jack Palance, como o velho veterano confederado, novamente marca presença com sua mentalidade típica dos sulistas americanos. Ator de traços marcantes ele aqui também surpreende pela vivacidade de seu papel. O resultado final é um filme cru, violento e sem concessões como seriam vários filmes com Charles Bronson dali pra frente. Dois anos depois o ator finalmente estrelaria o filme símbolo de sua carreira, “Desejo de Matar”, com o mesmo diretor e praticamente o mesmo argumento. A partir daí sua trajetória artística jamais seria a mesma novamente, algo que esse “Renegado Impiedoso” já antecipava. Não deixe de assistir, pois é um western visceral e obrigatório para os fãs desse ator.
   
Renegado Impiedoso / Renegado Vingador (Chato´s Land, Estados Unidos, 1972) Direção: Michael Winner / Roteiro: Gerald Wilson / Elenco: Charles Bronson, Jack Palance, James Whitmore / Sinopse: Após matar um xerife em legitima defesa um índio apache começa a ser caçado pelo meio do deserto por um veterano da guerra civil e seu grupo, formado por fazendeiros e pequenos proprietários rurais. No meio do deserto só sobreviverão os mais fortes e aptos para aquele ambiente completamente hostil e selvagem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 8

O último filme de John Wayne em 1932 foi "Ouro Mal-assombrado" (Haunted Gold), faroeste dirigido por Mack V. Wright.  O mais curioso dessa produção é que o roteiro tinha também elementos de filmes de horror! Foi um dos primeiros filmes de Hollywood que procuravam mesmo reunir dois gêneros cinematográficos em um só! Já que o terror e o faroeste eram bem populares porque não tentar fazer uma produção que tivesse o melhor dos dois lados? E assim foi feito. Aqui John Wayne interpreta John Mason, Ao lado de Janet Carter (Sheila Terry) ele recebe uma carta convidando para ir até uma cidade fantasma onde supostamente existiria uma mina abandonada, com um tesouro escondido em seu interior. Claro que isso também desperta a ganância de bandidos que correm para colocar as mãos na fortuna. O mais curioso desse roteiro é que havia também um personagem fantasma que acabava ajudando Wayne e sua companheira em sua aventura mina adentro. Foi a primeira e única vez que Wayne flertou com o terror em toda a sua longa filmografia. Ficou muito interessante, é inegável dizer.

Em 1933 John Wayne foi novamente contratado pelo estúdio Warner Bros para estrelar o filme "Na Trilha do Telégrafo" (The Telegraph Trail). Era mais um faroeste, só que no estilo mais tradicional. Nada de muito diferente das outras fitas de matinê da época. No enredo John Wayne interpretava um empregado da companhia de telégrafos que era enviado para o velho oeste para descobrir o que estaria por trás de uma série de atos criminosos que colocavam abaixo os postes e os fios do telégrafo. Acabava descobrindo que um rancheiro inescrupuloso estava manipulando nativos indígenas para destruir as instalações, dizendo que aquilo seria usado pelo homem branco para ajudar na destruição das tribos. Uma fita bem escrita, contando novamente com a presença do cavalo amestrado Duke, que fazia a alegria da garotada nos cinemas.

Poucos sabem, mas John Wayne também participou de uma versão americana de "Os Três Mosqueteiros". Só que ao invés de espadachins e membros da guarda real da dinastia francesa dos Bourbons, o que se via na tela eram soldados americanos em aventuras no Oriente Médio. O filme se passava numa exótica Arábia, com heroísmo por parte dos militares da famosa Legião Estrangeira. John Wayne interpretava um personagem chamado Tom Wayne (bem sugestivo não é mesmo?), que se via às voltas com um vilão conhecido como El Shaitan, um facínora que espalhava terror nas pequenas comunidades ao longo das areias do deserto. O curioso é que a produção do estúdio Mascot Pictures (que faliu há anos) era simples e econômica. Assim os arredores de Los Angeles serviram de locação, até porque segundo o diretor Colbert Clark o deserto da Califórnia poderia ser tão quente e inóspito como o próprio Saara (e ele tinha razão nesse ponto!)

Por essa época John Wayne estava disposto a atuar em todo e qualquer filme que tivesse algum atrativo para o público mais jovem. Depois de aventuras nas areias do deserto ele virou um heroico piloto de aviação em "Atração dos Ares". Esse tipo de filme tinha um apelo comercial forte na época, até porque "Asas", que era bem semelhante, foi o principal vencedor da primeira premiação do Oscar! No enredo dois aviadores irmãos disputavam não apenas o prêmio de melhor piloto do mundo como também o coração de uma paraquedista chamada Jill Collins. Essa aliás foi uma das primeiras personagens femininas com ares de independência. Interpretada pela atriz Sally Eilers a Jill tinha personalidade forte e não se curvava aos meros caprichos dos homens. 

Em 1933 John Wayne atuou no faroeste "Na Terra de Ninguém" (Somewhere in Sonora. EUA, 1933). Filme dirigido por Mack V. Wright na Warner Bros. Mais uma vez o bom e velho John Wayne adotou um figurino à la Tom Mix, com aquele enorme chapéu branco de cowboy. Ele interpretou um personagem chamado John Bishop. Preso de forma injusta ele acaba sendo ajudado por um homem do campo chamado Bob. Em troca e como forma de gratidão resolve ajudar o rancheiro a procurar seu filho, há muitos anos desaparecido. Uma péssima ideia já que o rapaz estaria envolvido com problemas legais, inclusive estando na mira de uma quadrilha sanguinária de bandoleiros.

Depois de mais um western o ator decidiu mudar um pouco os ares. A procura por algo diferente veio com o filme "Viver na Morte" (The Life of Jimmy Dolan, EUA, 1933). De forma sintética poderíamos dizer que se tratava de um drama esportivo, com espaço também para um pouco de suspense. John Wayne interpretava um boxeador (não era a primeira vez que tinha um papel como esse). Seu personagem era bom de punhos e se chamava Jimmy Dolan. Durante uma festa ele acaba matando um homem de forma acidental. Para não ser preso decide fugir para o interior. Ao chegar numa pequena cidade termina adotando o nome de Jack Dougherty. Nos arredores da cidadezinha arranja trabalho numa fazenda de ajuda a pessoas inválidas, doentes, deficientes físicos, etc. O lugar administrado pela bela Peggy e pela honesta Sra. Moore, acaba mudando a forma como Jimmy via o mundo. Seu olhar cínico acaba cedendo ao descobrir que havia pessoas boas, tentando fazer o melhor possível para ajudar outras pessoas, carentes e precisando de ajuda especial. Uma mudança e tanto de vida. Esse é seguramente um dos melhores momentos de John Wayne no cinema na década de 1930, infelizmente sendo pouco lembrado nos dias de hoje.

Nos anos 30 os atores faziam um filme atrás do outro. Mal dava tempo para mudar os figurinos, como se brincava na época nos bastidores. Mal John Wayne havia feito o drama com toques sociais "Viver na Morte" ele voltava à ativa para atuar em "Serpente de Luxo" (Baby Face, EUA, 1933). A verdadeira estrela do filme era a loira platinada Barbara Stanwyck, ainda em começo de carreira. John Wayne por seu lado deixava os trajes surrados de cowboy de lado para aparecer de traje à rigor, superfino e na moda. Nem parecia o velho rancheiro de tantos filmes. O roteiro explorava a vida de uma mulher que em determinado momento de sua vida decidia se vingar de todos os homens que a tinham prejudicado no passado, dando a volta por cima. É o que certa vez o diretor Alfred E. Green chamou de "Suspense champagne", uma trama envolvendo crimes na alta sociedade.

Pablo Aluísio.