segunda-feira, 29 de julho de 2024

Sabata Adeus

Título no Brasil: Sabata Adeus
Título Original: Indio Black, Sai Che Ti Dico: Sei Un Gran Figlio Di...
Ano de Produção: 1970
País: Itália, Espanha
Estúdio: Produzioni Europee Associati (PEA)
Direção: Gianfranco Parolini
Roteiro: Renato Izzo
Elenco: Yul Brynner, Dean Reed, Ignazio Spalla
  
Sinopse:
Sabata (Yul Brynner), o infame pistoleiro vestido de negro, resolve liderar um grupo de bandoleiros na perigosa tarefa de roubar um rico carregamento de ouro proveniente do império austro-húngaro em direção ao México. Para deter os impulsos criminosos de Sabata e seus homens a fortuna passa a ser protegida pelo Coronel Skimmel (Gérard Herter), um militar veterano e linha dura que está determinado a capturar e matar Sabata a todo custo.

Comentários:
Esse é o segundo filme presente no box The Spaghetti Western Collection. Como se sabe o personagem Sabata foi imortalizado nas telas pelo ator Lee Van Cleef em "Sabata, o Homem que Veio para Matar" (1969). Apesar do grande sucesso de bilheteria ele recusou todas as propostas para voltar ao papel. Estava com receios de ficar marcado apenas por um personagem. Assim os produtores tiveram que pensar em um substituto à altura. Resolveram então importar o russo Yuli Borisovich Bryner do cinema americano. Brynner naquela altura já estava consagrado graças a filmes de sucesso que realizou nos Estados Unidos como por exemplo o clássico western "Sete Homens e um Destino". Isso por si só já trazia grande publicidade para o filme. Além disso o fato de interpretar um personagem tão marcante como Sabata chamaria a atenção do público em geral de uma maneira ou outra. De fato o filme fez sucesso, mas também foi alvo de críticas, principalmente por causa de Brynner, acusado de não ter conseguido fazer um grande trabalho com o famoso pistoleiro do western spaghetti. Em minha opinião ele não se saiu mal, o problema é que o público realmente queria reencontrar Cleef do filme original. Tanto que atendendo aos apelos dos fãs Lee Van Cleef finalmente aceitaria fazer novamente Sabata em "Sabata Vem para Vingar" (1971), sua despedida final do personagem. Esse "Sabata Adeus" tem uma excelente produção (o filme foi rodado nos famosos estúdios de Cinecittà em Roma), mas realmente não criou um vínculo maior com seu público. Agora, passados tantos anos, temos uma boa oportunidade para fazer uma revisão mais imparcial sobre os méritos dessa obra cinematográfica.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 4

O diretor Henry Hathaway voltou a pedir ao estúdio que contratasse Randolph Scott para mais um faroeste. Ele havia assinado para trabalhar na direção da adaptação para as telas de cinema do romance de Zane Grey. Em sua visão apenas Scott tinha os atributos para interpretar o personagem principal, um cowboy chamado Chane Weymer. O filme iria se chamar "Wild Horse Mesa" (no Brasil recebeu o título de "Audácia Entre Adversários").

O roteiro desse western era bem interessante, mostrando os conflitos e lutas de um rancheiro que desejava tocar sua vida em uma região inóspita, bem no meio do deserto do Arizona. As filmagens foram feitas em locações desérticas, algo que exigiu muito do elenco e da equipe técnica. Scott ficou bem amigo da estrela do filme, Sally Blane. Essa aproximação (que não passava de simples amizade) acabou caindo nas revistas de fofocas, onde se dizia que os dois atores estavam tendo um caso no set de filmagens. "Pura mentira, mas que ajudava a promover o filme" - relembraria anos depois o próprio ator.

"Wild Horse Mesa" foi sucesso de bilheteria. Ainda hoje é cultuado pelos fãs do gênero western. Um bom filme certamente, embora não fugisse muita da mitologia auto centrada que os estúdios de cinema tinham criado para os filmes de faroeste. Havia o mocinho, a mocinha que seria conquistada, os vilões malvados e, é claro, a exuberância dos cenários naturais. A diferença é que o filme foi dirigido pelo grande e talentoso cineasta Henry Hathaway que iria se notabilizar em Hollywood pela diversidade de filmes que dirigiu. Embora tenha feito também grandes filmes de western, inclusive ao lado de John Wayne, esse cineasta procurava ser o mais eclético possível, passeando por todos os tipos de filmes, sem ficar preso a nenhum gênero.

Algo que Randolph Scott tentou no começo da carreira, embora no íntimo ele soubesse que seu futuro vinha mesmo dos filmes de faroeste. Seu próximo filme demontra bem isso, um dos poucos filmes de terror e suspense da filmografia de Randolph Scott. "Vingança Diabólica" foi dirigido por A. Edward Sutherland, um cineasta inglês que tentava melhorar a qualidade dos filmes de terror nos Estados Unidos. Os ingleses eram considerados mestres no suspense cinematográfico naquela época. "Não deu certo!" - confidenciaria anos depois o ator. "Eu não fui bem nesse filme. Estava deslocado, sem saber muito bem o que fazer! Essa coisa de terror não era a minha área." Ao contrário do faroeste anterior essa fita com ares de cinema noir foi um fracasso de bilheteria, fazendo com que Randolph Scott começasse a se concentrar nos cavalos, nas esporas, nas estrelas de xerife e nos duelos ao pôr do sol. Os filmes de western eram mesmo o seu porto seguro em termos de público e crítica.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Renegado Impiedoso

Após o fim das chamadas guerras indígenas, muitos nativos americanos levaram suas famílias para o deserto impiedoso para tentar levar uma vida pacífica no meio daquele ambiente hostil e selvagem. É o caso de Pardon Chato (Charles Bronson), um apache que vive no meio do deserto com sua família. De vez em quando ele tem que ir até a cidade em busca de provimentos para levar para casa. Para aliviar um pouco o calor decide também ir até o Saloon mais próximo para tomar alguns goles de whisky. Chegando lá acaba sendo hostilizado pelo xerife local. A implicância é de fundo puramente racista. Após uma série de ofensas proferidas o corrupto xerife resolve sacar sua arma o que se revela uma péssima ideia pois Pardon é rápido no gatilho e em legitima defesa mata o homem da lei. Assim que a noticia se espalha um veterano confederado da guerra civil, o capitão Quincey Whitmore (Jack Palance), resolve formar um grupo para ir até o deserto capturar e matar o apache foragido. Recrutando fazendeiros e pequenos proprietários rurais ele parte para uma caçada humana sem tréguas. O que ele não contava é que iria agora entrar em um conflito armado justamente nas terras do índio Pardon, em seu território, o que tornaria tudo muito mais complicado. E para piorar o apache estaria à sua espera, com forte desejo de vingança.

Charles Bronson trabalhou em sete filmes ao lado do diretor Michael Winner, sendo que esse foi o primeiro deles. Esse cineasta logo entendeu que Bronson (que até aquele momento havia desempenhado muitos papéis coadjuvantes) poderia muito bem se adaptar a um tipo de personagem ideal, com poucas falas mas muita ação física. É justamente o que acontece aqui. O ator tem apenas duas linhas de diálogo o filme inteiro mas em compensação protagoniza várias cenas de ação no meio daquela paisagem árida e rústica. Em ótima forma física, Bronson começa a liquidar um por um seus perseguidores, alguns com requintes de crueldade extrema. O filme aliás é bem mais violento do que os faroestes de sua época o que fez a produção ter alguns problemas com a censura que ameaçou só o liberar para uma faixa etária mais elevada (acima de 18 anos). Há uma cena de estupro coletivo que causou muitos problemas para o estúdio na época. Só após vários cortes é que o filme finalmente foi liberado para exibição para maiores de 16 anos. Além da violência o filme também se destacava pelo bom elenco. Charles Bronson está completamente convincente como o apache fugitivo e o cenário do deserto acaba também virando um personagem vivo dentro da trama. Jack Palance, como o velho veterano confederado, novamente marca presença com sua mentalidade típica dos sulistas americanos. Ator de traços marcantes ele aqui também surpreende pela vivacidade de seu papel. O resultado final é um filme cru, violento e sem concessões como seriam vários filmes com Charles Bronson dali pra frente. Dois anos depois o ator finalmente estrelaria o filme símbolo de sua carreira, “Desejo de Matar”, com o mesmo diretor e praticamente o mesmo argumento. A partir daí sua trajetória artística jamais seria a mesma novamente, algo que esse “Renegado Impiedoso” já antecipava. Não deixe de assistir, pois é um western visceral e obrigatório para os fãs desse ator.
   
Renegado Impiedoso / Renegado Vingador (Chato´s Land, Estados Unidos, 1972) Direção: Michael Winner / Roteiro: Gerald Wilson / Elenco: Charles Bronson, Jack Palance, James Whitmore / Sinopse: Após matar um xerife em legitima defesa um índio apache começa a ser caçado pelo meio do deserto por um veterano da guerra civil e seu grupo, formado por fazendeiros e pequenos proprietários rurais. No meio do deserto só sobreviverão os mais fortes e aptos para aquele ambiente completamente hostil e selvagem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 8

O último filme de John Wayne em 1932 foi "Ouro Mal-assombrado" (Haunted Gold), faroeste dirigido por Mack V. Wright.  O mais curioso dessa produção é que o roteiro tinha também elementos de filmes de horror! Foi um dos primeiros filmes de Hollywood que procuravam mesmo reunir dois gêneros cinematográficos em um só! Já que o terror e o faroeste eram bem populares porque não tentar fazer uma produção que tivesse o melhor dos dois lados? E assim foi feito. Aqui John Wayne interpreta John Mason, Ao lado de Janet Carter (Sheila Terry) ele recebe uma carta convidando para ir até uma cidade fantasma onde supostamente existiria uma mina abandonada, com um tesouro escondido em seu interior. Claro que isso também desperta a ganância de bandidos que correm para colocar as mãos na fortuna. O mais curioso desse roteiro é que havia também um personagem fantasma que acabava ajudando Wayne e sua companheira em sua aventura mina adentro. Foi a primeira e única vez que Wayne flertou com o terror em toda a sua longa filmografia. Ficou muito interessante, é inegável dizer.

Em 1933 John Wayne foi novamente contratado pelo estúdio Warner Bros para estrelar o filme "Na Trilha do Telégrafo" (The Telegraph Trail). Era mais um faroeste, só que no estilo mais tradicional. Nada de muito diferente das outras fitas de matinê da época. No enredo John Wayne interpretava um empregado da companhia de telégrafos que era enviado para o velho oeste para descobrir o que estaria por trás de uma série de atos criminosos que colocavam abaixo os postes e os fios do telégrafo. Acabava descobrindo que um rancheiro inescrupuloso estava manipulando nativos indígenas para destruir as instalações, dizendo que aquilo seria usado pelo homem branco para ajudar na destruição das tribos. Uma fita bem escrita, contando novamente com a presença do cavalo amestrado Duke, que fazia a alegria da garotada nos cinemas.

Poucos sabem, mas John Wayne também participou de uma versão americana de "Os Três Mosqueteiros". Só que ao invés de espadachins e membros da guarda real da dinastia francesa dos Bourbons, o que se via na tela eram soldados americanos em aventuras no Oriente Médio. O filme se passava numa exótica Arábia, com heroísmo por parte dos militares da famosa Legião Estrangeira. John Wayne interpretava um personagem chamado Tom Wayne (bem sugestivo não é mesmo?), que se via às voltas com um vilão conhecido como El Shaitan, um facínora que espalhava terror nas pequenas comunidades ao longo das areias do deserto. O curioso é que a produção do estúdio Mascot Pictures (que faliu há anos) era simples e econômica. Assim os arredores de Los Angeles serviram de locação, até porque segundo o diretor Colbert Clark o deserto da Califórnia poderia ser tão quente e inóspito como o próprio Saara (e ele tinha razão nesse ponto!)

Por essa época John Wayne estava disposto a atuar em todo e qualquer filme que tivesse algum atrativo para o público mais jovem. Depois de aventuras nas areias do deserto ele virou um heroico piloto de aviação em "Atração dos Ares". Esse tipo de filme tinha um apelo comercial forte na época, até porque "Asas", que era bem semelhante, foi o principal vencedor da primeira premiação do Oscar! No enredo dois aviadores irmãos disputavam não apenas o prêmio de melhor piloto do mundo como também o coração de uma paraquedista chamada Jill Collins. Essa aliás foi uma das primeiras personagens femininas com ares de independência. Interpretada pela atriz Sally Eilers a Jill tinha personalidade forte e não se curvava aos meros caprichos dos homens. 

Em 1933 John Wayne atuou no faroeste "Na Terra de Ninguém" (Somewhere in Sonora. EUA, 1933). Filme dirigido por Mack V. Wright na Warner Bros. Mais uma vez o bom e velho John Wayne adotou um figurino à la Tom Mix, com aquele enorme chapéu branco de cowboy. Ele interpretou um personagem chamado John Bishop. Preso de forma injusta ele acaba sendo ajudado por um homem do campo chamado Bob. Em troca e como forma de gratidão resolve ajudar o rancheiro a procurar seu filho, há muitos anos desaparecido. Uma péssima ideia já que o rapaz estaria envolvido com problemas legais, inclusive estando na mira de uma quadrilha sanguinária de bandoleiros.

Depois de mais um western o ator decidiu mudar um pouco os ares. A procura por algo diferente veio com o filme "Viver na Morte" (The Life of Jimmy Dolan, EUA, 1933). De forma sintética poderíamos dizer que se tratava de um drama esportivo, com espaço também para um pouco de suspense. John Wayne interpretava um boxeador (não era a primeira vez que tinha um papel como esse). Seu personagem era bom de punhos e se chamava Jimmy Dolan. Durante uma festa ele acaba matando um homem de forma acidental. Para não ser preso decide fugir para o interior. Ao chegar numa pequena cidade termina adotando o nome de Jack Dougherty. Nos arredores da cidadezinha arranja trabalho numa fazenda de ajuda a pessoas inválidas, doentes, deficientes físicos, etc. O lugar administrado pela bela Peggy e pela honesta Sra. Moore, acaba mudando a forma como Jimmy via o mundo. Seu olhar cínico acaba cedendo ao descobrir que havia pessoas boas, tentando fazer o melhor possível para ajudar outras pessoas, carentes e precisando de ajuda especial. Uma mudança e tanto de vida. Esse é seguramente um dos melhores momentos de John Wayne no cinema na década de 1930, infelizmente sendo pouco lembrado nos dias de hoje.

Nos anos 30 os atores faziam um filme atrás do outro. Mal dava tempo para mudar os figurinos, como se brincava na época nos bastidores. Mal John Wayne havia feito o drama com toques sociais "Viver na Morte" ele voltava à ativa para atuar em "Serpente de Luxo" (Baby Face, EUA, 1933). A verdadeira estrela do filme era a loira platinada Barbara Stanwyck, ainda em começo de carreira. John Wayne por seu lado deixava os trajes surrados de cowboy de lado para aparecer de traje à rigor, superfino e na moda. Nem parecia o velho rancheiro de tantos filmes. O roteiro explorava a vida de uma mulher que em determinado momento de sua vida decidia se vingar de todos os homens que a tinham prejudicado no passado, dando a volta por cima. É o que certa vez o diretor Alfred E. Green chamou de "Suspense champagne", uma trama envolvendo crimes na alta sociedade.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Céu Amarelo

Baseado num conto de W.R Burnett, o western, "Céu Amarelo" (Yellow Sky,1948) conta a história de James Stretch Dawson (Gregory Peck) e seu bando de assaltantes. A quadrilha, após assaltar o banco da pequena cidade de Rameyville, foge, tendo em seu encalço vários soldados da união. Para fugir do pequeno exército, Stretch e seus capangas desviam a rota e resolvem atravessar a imensidão do deserto na região do Vale da Morte. Depois de vários dias de travessia pelo deserto com sol abrasador, o bando está em frangalhos. O calor inclemente, além da sede e da fome, devastam pouco a pouco Stretch, seus comparsas e os cavalos. Quando ninguém mais acreditava, a quadrilha trôpega e moribunda, chega a uma cidade fantasma chamada Yellow Sky. Na busca desesperada por água o bando encontra uma mulher que os recebem armada com um rifle. Seu nome: Mike (Anne Baxter). Mike mora na pequena cidade com seu avô (James Barton) e juntos guardam um segredo a sete chaves: uma mina de ouro. A beleza e o charme de Mike passam a chamar a atenção do bando, mas especialmente de dois deles: Stretch (Gregory Peck) e Dude (Richard Widmark). Passado alguns dias o bando descobre que Mike e seu avô escondem uma mina de ouro e passam a pressioná-los para que indiquem a posição. O velho, já doente, informa ao bando que na mina existem 50.000 dólares em ouro e que topa fazer a divisão entre todos.

O maior problema é que Stretch está cada dia mais apaixonado por Mike, fazendo brotar em Dude sentimentos de ciúme, ódio e vingança. Dude então reúne o bando para juntos roubarem a mina, traindo não só Stretch mas também Mike e seu avô. Quando descobre a traição do resto do bando, Stretch se une a Mike e seu avô e juntos irão enfrentar o resto do bando pela posse de todo o ouro. Entrincheirados na casa de Mike para se protegerem dos bandidos que agora tem Dude como líder, a batalha pelo ouro e também pelo coração de Mike, inicia-se com uma ferrenha troca de tiros que culminará num final sensacional, inesperado e digno dos grandes clássicos.

Céu Amarelo é um dos maiores western feitos até hoje. Seu revestimento estético projeta na tela uma aura e um charme que só os eternos clássicos do western possuem. Além disso, o longa é ancorado por excelentes performances de Gregory Peck, Richard Widmarck e Anne Baxter. A fotografia em preto e branco de Joseph MacDonald é um espetáculo à parte, principalmente na cena da travessia do deserto onde ele explora as tomadas com um excesso quase letal de claridade. Palmas também para mais um show de direção do grande William A.Wellman que também já havia dirigido o inesquecível "Beau Geste" em 1939.

Céu Amarelo (Yellow Sky, Estados Unidos, 1948) Direção: William A. Wellman / Roteiro: Lamar Trotti, W.R. Burnett / Elenco: Gregory Peck, Anne Baxter, Richard Widmark / Sinopse: Grupo de assaltantes chegam numa pequena cidade perdida do velho oeste e descobrem que no local há uma rica mina de ouro. Agora terão que lutar para colocar as mãos na fortuna do local.

Telmo Vilela Jr.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 7

Em 1932 John Wayne voltou para os filmes de faroeste. A fita da vez se chamava "Pena de Talião" (Ride Him, Cowboy). Com direção de Fred Allen e roteiro escrito pela dupla Kenneth Perkins e Scott Mason, esse western de matinê era mais um passo para que Wayne se tornasse um verdadeiro astro de cinema. Esse também foi um dos primeiros trabalhos de Wayne na poderosa Warner Bros, conhecido estúdio que sempre caprichava em suas produções.

O enredo era simples. John Wayne interpretava um cowboy chamado John Drury. Em uma cidade do velho oeste ele encontrava todos os tipos de gente, desde a mocinha romântica em perigo, até um grupo de bandoleiros sob ás ordens do manda chuva do lugar. Conforme podemos ver no poster original um destaque dessa fita era a presença do cavalo treinado Duke, um alazão muito bonito e forte, que acabou roubando várias cenas do próprio John Wayne. O curioso é que embora tenha se tornado um dos astros mais populares desse tipo de filme, ele nunca teria um cavalo ligado ao seu mito, como aconteceu por exemplo com Roy Rogers e Trigger. Ao invés disso preferiu deixar os animais de seus filmes em segundo plano, com exceção talvez única desse filme onde o "Duke" ganhou espaço até mesmo no cartaz da fita.

No filme seguinte, "A Grande Estirada" (The Big Stampede, Estados Unidos, 1932), John Wayne  interpretou um xerife, John Steele. Em um lugar remoto no meio do deserto, sem homens para apoiá-lo na captura de um violento pistoleiro e sua quadrilha, ele se vê forçado a recrutar cowboys comuns, alguns até mesmo com histórico de prisão, para enfrentar os demais criminosos. Esse foi outro filme de Wayne na Warner Bros, outra fita rápida com apenas 54 minutos de duração. Com direção de Tenny Wright e roteiro escrito a partir do conto "The Land Beyond the Law" de  Marion Jackson, o filme era mais um a ser exibido em matinês por cinemas em toda a América. A estratégia de lançamento desse tipo de produção era simples e lucrativa. Os filmes eram exibidos geralmente em sessões duplas, com outras produções, a preços promocionais. Baratos e altamente lucrativos, fizeram a fortuna de muitos produtores na época.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Paixão dos Fortes

Reza a lenda que no ano de 1927 o mítico Wyatt Berry Stapp Earp, ou simplesmente Wyatt Earp (1848 -1929) numa entrevista concedida ao mestre John Ford, contou-lhe em detalhes como fora o famoso duelo de Ok.Corral que ocorrera na cidade de Tombstone no ano de 1881, entre os irmãos Earp e os Clanton. Anos depois, transformado numa obra de arte e batizado de "Paixão dos Fortes" (My Darling Clementine - 1946) o clássico - erguido na exuberância de Monument Valley, palco principal do legendário diretor John Ford - conta a história (verídica) dos irmãos Earp (Wyatt, James, Virgil e Morgan Earp) que depois de abandonarem a cidade de Dodge City - onde Wyatt Earp (Henry Fonda) era xerife - partem para a região do Arizona dedicando-se a criação de gado.

Certa noite, Wyatt, Virgil e Morgan Earp vão até à cidade de Tombstone para conhecê-la um pouco mais e deixam o irmão mais novo, James Earp, sozinho, tomando conta do gado e do acampamento. Ao retornarem, o cenário é desolador: todo o gado havia sido roubado e James Earp, assassinado. Depois de enterrar o irmão, Wyatt torna-se xerife de Tombstone com o objetivo de vingar os assassinos do jovem irmão, e manter a cidade em paz. Ele ainda não sabe quem são os assassinos de seu irmão, no entanto, uma certa turma não sai de sua cabeça: os Clanton (Clanton pai, Billy Clanton, Ike Clanton) e seus comparsas: Billy Claiborne, Tom e Frank McLaury. Wyatt conhece Chihuahua (Linda Darnel) uma espevitada dançarina do saloon local, que alimenta apenas um sonho: a volta de sua paixão, John Henry "Doc" Holliday, ou apenas Doc Holliday: pistoleiro, jogador e dentista (daí o apelido Doc).

A fervura aumenta com a chegada à cidade do irascível Doc Holliday (Victor Mature). Depois de rever a bela Chihuahua o dentista conhece de perto o lendário Wyatt Earp. Wyatt aproxima-se de Doc, mas o encontro dos dois que a princípio poderia se tranformar numa grande amizade vira uma conturbada relação de amizade e ódio que se arrasta até o fim do clássico. Certo dia chega à cidade a bela Clementine Carter (Cathy Downs). Antiga paixão do Doc, Clementine (que inspira a trilha sonora) chega para reencontrar seu antigo e intratável amor. Doc odeia sua presença e diz que se ela não for embora, ele irá. Wyatt apaixona-se por Clementine que resolve ficar. Revoltada com a presença de Clementine em Tombstone, Chihuahua vai até seu quarto para expulsá-la do hotel e da cidade no exato momento em que  é surpreendida pela chegada de Wyatt Earp que acalma a situação. Enquanto conversa com Chihuahua, Earp nota que ela está usando um colar que pertenceu ao seu irmão assassinado. O famoso xerife fica então a poucos instantes de descobrir quem realmente matou seu irmão.

Paixão dos Fortes é um diamante da sétima arte e foi reconhecido pelo próprio John Ford como o seu filme mais precioso. Durante quarenta e cinco dias de filmagens, Ford construiu um verdadeiro monumento, não só ao cinema mas às artes em geral. Ele não era apenas um diretor de cinema, mas também um poeta, um pintor e um visionário de cenas antológicas que marcaram para sempre a história do cinema americano. No clássico, sua chancela está em cada cena e em cada fala. A esplêndida direção de fotografia de Joseph Mac Donald equilibra as imagens em preto e branco com brilhos e sombreamentos excepcionais. O elenco, recheado de lendas do cinema como Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature e Walter Brennan são a cereja do bolo deste clássico inesquecível que entrou para a história do cinema.

Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA, 1946) Direção: John Ford / Roteiro: Samuel G. Engel, Winston Miller / Elenco:  Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature / Sinopse: Um dos grandes clássicos de John Ford "Paixão dos Fortes" conta parte da história do lendário xerife Wyatt Earp e o famoso conflito armado ocorrido no OK Corral.

Telmo Vilela Jr.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 6

Em 1932 John Wayne atuou no filme "Cavaleiro do Texas" (Texas Cyclone). A direção dessa fita foi do cineasta  D. Ross Lederman. Wayne era até então apenas o quarto nome do elenco, bem atrás do verdadeiro astro do faroeste, o cowboy Tim McCoy. Era um filme de matinê, uma fita rápida de apenas 60 minutos de duração. A  Columbia Pictures estava investindo bastante nesse tipo de produção, exibida para o público jovem, com preços promocionais. Filmes de orçamentos pequenos que traziam lucro certo a cada exibição. Dentro da carreira de John Wayne não trouxe muito em termos de qualidade, mas serviu para deixá-lo na ativa, trabalhando e se tornando mais familiar para o público espectador. Quanto mais conhecido ele ia ficando, melhor!

John Wayne se saiu tão bem na fita anterior que foi logo escalado para outro bang-bang de Tim McCoy. Esse segundo filme, também rodado e lançado em 1932 se chamava "A Lei da Coragem" (Two-Fisted Law). O roteiro era bem simples, mas movimentado e divertido. No centro da trama tínhamos um pacato rancheiro que acaba se vendo no meio de uma disputa por prata nas montanhas próximas de sua propriedade rural. Curiosamente nesse filme John Wayne usou o nome de Duke, que nomeava seu personagem e que também era o seu apelido pessoal, bem conhecido de todos que frequentavam sua recém comprada casa em Hollywood. O Duke do roteiro foi levado pelo próprio Duke, ou seja, ele mesmo, John Wayne.

Depois de dois filmes de western John Wayne resolveu variar um pouco aparecendo no drama esportivo "Homem de Peso" (Lady and Gent). Dirigido por Stephen Roberts essa produção foi a primeira da carreira de John Wayne a ser indicada a um Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (indicação dada aos talentosos roteiristas Grover Jones e William Slavens McNutt). Wayne interpretava um boxeador chamado Buzz Kinney. Após concluir a escola ele entrava para o mundo dos ringues, mas logo descobria que se tornar um campeão não dependia apenas de seus talentos e golpes, mas também de um intenso jogo de interesses envolvendo apostadores e membros da máfia.

E por falar em bons roteiros, a fita seguinte de John Wayne chamada "O Expresso da Aventura" também era muito bem escrita. O enredo mostrava um trem, onde um crime era cometido. As suspeitas iam para um estranho assassino conhecido apenas como "The Wrecker". John Wayne, ainda bem jovem, interpretava Larry Baker, um investigador que chegava no trem para descobrir o verdadeiro assassino. Com ecos de Agatha Christie, o filme ainda hoje é admirado pelas boas doses de suspense.

Pablo Aluísio.