segunda-feira, 1 de abril de 2024

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 2

Os primeiros filmes de Randolph Scott foram apenas testes, formas do estúdio em verificar se ele ficava bem em cena. Sua estreia nas telas se deu em 1928, ainda no cinema mudo, em uma produção chamada "Rumo ao Amor". É curioso notar que desde os primeiros trabalhos no cinema, Scott não se importou em fazer todos os tipos de filmes. Aliás ele estava mesmo pensando que iria se tornar um ator ao estilo Cary Grant. Ele estava pronto para ser um galã de filmes mais românticos se fosse preciso.

Sua amizade com Grant aliás foi uma das mais duradouras fofocas da história de Hollywood. Quando eram apenas jovens atores aspirantes ao estrelato, eles resolveram dividir uma bela casa nas colinas de Hollywood. Era algo natural acontecer já que nenhum dos dois tinha dinheiro suficiente para bancar uma bela mansão com piscina sem a ajuda do outro. Então, como eram amigos mesmo, resolveram dividir o aluguel, indo morar juntos. Acontece que o estúdio contratou uma equipe de fotógrafos para tirar uma série de fotos promocionais em sua residência. A proposta era mostrar o cotidiano de dois jovens atores de Hollywood.

O problema é que a tentativa de mostrar um lado mais, digamos, pessoal e privado da vida deles, acabou criando uma incômoda sensação de que eles tinham um relacionamento íntimo demais para dois homens. Não demorou muito e os boatos de que era gays começou a se espalhar. Tanto Scott como Grant não pareceram se importar muito com esses rumores, tanto que jamais deixaram de ser amigos, de saírem juntos, indo a campos de golfe, jantares e premiações.

Anos depois, já casados, a "teoria gay" acabaria virando uma piada divertida entre eles. De qualquer forma, voltando para aqueles anos, o fato é que morar bem, em uma casa bonita nas colinas, abriu várias portas para Scott e Grant. Eles convidaram diretores, produtores, atrizes e atores para festas, jantares e recepções. Era assim que um ator conseguia ser escalado para filmes em Hollywood. Randolph Scott aliás era um grande anfitrião nessas ocasiões. Dono de uma conversa agradável, com aquela educação sulista tão carismática, ele logo deixaria de pedir por trabalho, recebendo ao invés disso, cada vez mais convites para integrar elencos de novos filmes. A estratégia que havia criado ao lado de seu amigo Cary Grant havia dado muito certo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Clint Eastwood e o Western - Parte 2

Clint Eastwood não planejou sua carreira de ator como astro de filmes de western. As coisas simplesmente foram acontecendo. Em 1958 ele conseguiu um papel em um faroeste B chamado "Emboscada em Cimarron Pass" (Ambush at Cimarron Pass). Essa é uma produção bem difícil de se achar nos dias de hoje. É um filme pouco conhecido, obscuro, que poucos colecionadores possuem. Quase ninguém assistiu. Vale sobretudo por trazer Clint Eastwood ainda bem jovem, já no papel de cowboy, o tipo que iria consagrar sua carreira. Fora isso nada de muito relevante em termos cinematográficos.

Dirigido por Jodie Copelan, com Scott Brady e Margia Dean no elenco, o roteiro baseado em um livro escrito por Robert A. Reeds, contava uma história que se passava em 1867 no velho oeste americano. Clint interpretava um sujeito chamado Keith Williams. Ele era um homem que tentava sobreviver em um território distante, uma reserva Apache em guerra, onde soldados do exército americano, da União, literalmente caçavam ex-soldados confederados que tinham se tornado bandoleiros e assassinos. Anos depois Clint Eastwood não iria ser refinado ao se lembrar desse filme, dizendo que ele era "provavelmente o pior western que já existiu!". Sua opinião não incomodaria os produtores. Depois que Clint se tornou um astro de Hollywood, o estúdio resolveu relançar o filme nos cinemas, já durante a década de 60. Era impossível perder a chance de faturar alto com seu nome, afinal de contas era um faroeste com Clint Eastwood, que mesmo sendo ruim ainda poderia gerar um bom faturamento nas bilheterias.

Depois de atuar em um filme sobre a I Guerra Mundial chamado "Lutando Só Pela Glória", Clint conseguiu uma excelente oportunidade, mas não no cinema e sim na TV.  Ele foi contratado para atuar na série de grande sucesso de audiência "Maverick". O programa estava entre os mais assistidos do país e contava com o astro James Garner como o famoso jogador de cartas que se envolvia em inúmeras aventuras durante a corrida rumo ao oeste. Atores famosos como Roger Moore (que iria se tornar o futuro James Bond no cinema) também atuavam nessa série. A chance de atuar nesse programa de TV tinha sua importância, pois serviria como vitrine de seu trabalho. Clint Eastwood acabou atuando no episódio "Duel at Sundown" onde ele interpretava um vilão. Aqui Clint repetia o mesmo tipo de personagem durão, de poucas palavras, de procedência desconhecida e futuro incerto que iria se tornar imortal. O típico pistoleiro sem nome, que ele iria eternizar em seus futuros filmes.

É curioso que Clint nem estava muito longe de seu primeiro grande filme, "Por um Punhado de Dólares", mas ao mesmo tempo parecia meio desanimado com sua carreira de ator que parecia não decolar como ele planejava. Depois de atuar em mais uma série de TV, dessa vez sob o selo do mestre do suspense Alfred Hitchcock, no programa "Alfred Hitchcock Presents", ele resolveu dar um tempo para repensar sua vida. Durante 3 anos Clint pensou seriamente em abandonar o sonho de viver como ator de cinema. Ele planejou tentar outras carreiras, outras profissões. Começou a se interessar pelo ofício de dirigir ou escrever roteiros. Mal sabia ele que em breve iria conhecer um cineasta italiano que iria mudar sua vida para sempre.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Audie Murphy e o Western - Parte 2

Audie Murphy foi um campeão de bilheteria das matinês. Ele estrelou uma longa série de filmes de faroeste que fizeram bastante sucesso. Nas telas ele geralmente interpretava o bom mocinho, muitas vezes até ingênuo e dono das melhores boas intenções. Uma imagem bem diferente do Audie da vida real. A inocência fora perdida em um dos conflitos mais sangrentos da história: a II Guerra Mundial. Audie era veterano de guerra e trazia muitas marcas psicológicas dentro de si por causa do que tinha vivenciado nos campos de batalhas da Europa.

Ele foi considerado um herói pelo exército americano por causa de um ato de bravura demonstrando durante uma batalha contra o exército alemão. Sua companhia foi cercada no meio de uma região de florestas. Seus companheiros de farda quase foram aniquilados completamente. Quem os salvou foi Audie, que usando uma metralhadora ponto 50 conseguiu matar inúmeros soldados nazistas. Isso lhe valeu inúmeras medalhas, mas nem elas compensavam os traumas que Audie Murphy levou para a vida civil depois que a guerra acabou.

Ele falou sobre isso timidamente durante uma entrevista nos anos 60. Ao jornalista que o entrevistava Audie explicou: "Eu poderia continuar no exército por longos anos se quisesse, mas depois da guerra e das coisas que vi pensei comigo mesmo que era o bastante para uma vida inteira. Eu presenciei coisas horríveis no campo de batalha e não tenho vergonha de dizer isso. Muitos dos meus amigos na companhia foram mortos e eles eram apenas garotos de 18 anos, mal saídos das cidadezinhas do interior onde nasceram. Eles nunca tiveram a chance de ter uma vida longa, de se casarem, terem filhos, etc. Ao invés disso morreram em algum buraco ou cratera de bomba na Europa ou no Pacífico. Essa sempre foi para mim a maior tragédia da guerra!".

Esses traumas não deixaram Audie nem mesmo após ele se tornar um ator de relativo sucesso. Muitos que trabalharam ao seu lado dizem que Murphy mantinha uma personalidade tendente a melancolia ou depressão. Quando não estava atuando procurava ficar sozinho, perdido em seus próprios pensamentos. Hollywood para ele era apenas uma forma de trabalho, além disso como costumava dizer: "Gosto dos filmes porque as balas são de mentirinha. Ninguém morre e no final do dia todos estão de volta seguros em suas casas. Exatamente o contrário do que vivi na II Guerra Mundial. Ali no campo de batalha não havia margem para o erro. Errar era fatal!".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Encontro com o Diabo

Título no Brasil: Encontro com o Diabo
Título Original: The Big Land
Ano de Lançamento: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Gordon Douglas
Roteiro: Frank Gruber, David Dortort
Elenco: Alan Ladd, Virginia Mayo, Edmond O'Brien, Anthony Caruso, Julie Bishop, John Qualen

Sinopse:
Após a Guerra Civil, a amargura permaneceu entre sulistas e nortistas. A fim de abastecer as cidades do leste com carne bovina, os ex-confederados do Texas levam seus rebanhos para as ferrovias. Depois de uma longa e difícil viagem de gado pelas Bad Lands, o ex-oficial confederado Chad Morgan (Alan Ladd) e seus parceiros chegam a uma ferrovia no Missouri, onde um comprador de gado corrupto e seu grupo de pistoleiros se oferecem para comprar os rebanhos dos texanos por uma quantia irrisória. Não demora muito e uma situação de conflito surge entre todos eles.

Comentários:
Depois do sucesso do filme "Os Brutos Também Amam" o ator Alan Ladd iria retornar ao gênero western, mais cedo ou mais tarde. E o fez em grande estilo com esse filme realmente muito bom. Seu personagem seguia na mesma linha, era um cowboy calmo, cortês, educado, até mesmo fino e elegante ao seu próprio modo, mas que sabia agir com armas de fogo quando isso se tornava necessário. Ele é um criador de gado, homem íntegro e honesto, que acaba tendo que lidar com um bando de facínoras que está obviamente de olho em sua manada. Se der o passo errado e mostrar algum tipo de fraqueza, será morto e seu gado roubado. O roteiro do filme, muito bom aliás, deixa claro que apesar do fim da guerra civil os problemas entre nortistas e sulistas continuavam, pois todos estavam à flor da pele, prestes a explodir em acessos de fúria e violência extrema, ao menor sinal de provocação mútua. Além disso os sulistas se ressentiam demais por terem perdido a guerra, o que tornava tudo ainda mais explosivo. Um excelente filme de western. Ótimo item para se ter em sua coleção pessoal de filmes de faroeste clássico. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de março de 2024

A Marca da Forca

Jed Cooper (Cint Eastwood) é confundido com um criminoso sendo espancado e linchado por um xerife corrupto e seu bando. Tempos depois retorna ao mesmo local para acertar as devidas contas entre eles. Eu costumo dizer que só dois atores garantem qualidade em seus filmes de western. Um é John Wayne. O outro é Clint Eastwood. Simplesmente não existem filmes com eles do gênero faroeste que sejam ruins. Todos são no mínimo bons, quando não são excepcionais. Esse "A Marca da Forca" é um exemplo claro dessa afirmação. Gosto muito dos antigos westerns da carreira do Clint. Nos anos 60 e 70 Clint estrelou uma série de ótimos filmes, quase sempre fazendo o mesmo papel, o do pistoleiro misterioso e de poucas palavras, que surge do nada e da mesma forma some ao final do filme. Esses personagens enigmáticos porém sempre tinham um passado por trás e nunca iam a essas cidades perdidas do velho oeste sem um objetivo em mente. Geralmente no decorrer do filme o espectador ia aos poucos entendendo o que ele fazia ali e quais eram seus propósitos. Clint Eastwood, com olhar de pedra encontrou seu veículo ideal nesse tipo de produção. A fórmula era certa e Clint colecionou uma série de sucessos de bilheteria assim.

Esse aqui segue basicamente essa linha embora tenha diferenças. Clint ainda continua durão mas o roteiro abre algumas concessões. Ao ler a sinopse a pessoa pode ser levada ao erro de pensar que tudo não passa de um acerto de contas entre ele e os vilões que tentaram lhe enforcar no começo do filme. Pois acredite, o filme tem um bom subtexto sobre a questão de se fazer justiça com as próprias mãos e até abre espaço para algumas cenas de romance com o personagem de Eastwood! Tudo isso porém não alivia e nem tira o filme de seu foco principal, o de ser um bang bang à moda antiga, com muitos tiroteios, enforcamentos e socos! Em essência é um legítimo western da primeira fase da carreira de Clint. Se você gosta não vai se arrepender.

A Marca da Forca (Hang 'Em High, EUA, 1968) Direção: Ted Post / Roteiro: Leonard Freeman, Mel Goldberg / Elenco: Clint Eastwood, Inger Stevens, Ed Begley, Pat Hingle, Ben Johnson / Sinopse: Jed Cooper (Cint Eastwood) é confundido com um criminoso sendo espancado e linchado por um xerife corrupto e seu bando. Tempos depois retorna ao mesmo local para acertar as devidas contas entre eles.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 18 de março de 2024

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 2

O rancho de cavalos do pai de John Wayne não deu certo e rapidamente foi a falência. O lugar era muito seco, sem fonte de água por perto, o que tornava tudo muito difícil. A região no sul da Califórnia era tão seca como o nordeste brasileiro. Com muitas dívidas em bancos e sem perspectiva de um futuro melhor, seu pai vendeu tudo e a família se mudou para Los Angeles, em busca de trabalho.

Nessa época John Wayne já estava saindo da adolescência, o que significava que ele estava prestes a entrar na universidade. Esse era seu velho sonho, não apenas por causa dos estudos em si, mas pelas oportunidades de bolsas dentro do universo do futebol americano universitário. Wayne valorizava demais os esportes e era considerado um bom jogador. Ele estava de olho em um futuro na liga profissional de futebol.

E de fato ele acabou sendo admitido na universidade por causa de seus talentos em campo. Wayne não era muito bom em leituras, mas sabia jogar uma bola de futebol como poucos. Alto, com poder atlético privilegiado, ele via ali uma oportunidade. Seu porte físico também abriu uma porta em um ramo de trabalho que ele jamais imaginaria: o cinema. Durante um intervalo nas aulas da universidade um amigo comentou com ele que um estúdio de cinema ali perto pagava bem por figuração. Atores de porte atlético eram contratados para aparecer em filmes de cowboys por um bom cachê. Dinheiro fácil e rápido.

O Jovem John Wayne foi então com seu amigo em busca desse trabalho. Mal ele sabia que nunca mais deixaria de trabalhar no cinema, se tornando no futuro um dos astros mais populares da sétima arte. A primeira vez que Wayne pisou em um estúdio de cinema foi em 1926, ainda nos tempos do cinema mudo. Ele conseguiu um trabalho de figuração no filme "Mocidade Esportiva", onde acabou interpretando um jogador de futebol da universidade de Yale. Foi uma experiência bem positiva, mas John queria mesmo era fazer um western. Naquele tempo o grande astro de Hollywood dos faroestes era Tom Mix. O astro do western usava chapéus enormes e um figurino todo branco. Era uma figura bem impressionante. Se espelhando nele o jovem John Wayne logo comprou um grande chapéu de cowboy, só que negro. Ele estava pronto para aparecer em seu primeiro faroeste na sua ainda recém iniciada carreira nas telas.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 15 de março de 2024

Gary Cooper no Velho Oeste - Parte 2

Demorou um tempo para que Gary Cooper finalmente se tornasse um astro de cinema, com seu nome estampado em cartazes dos filmes e tudo o mais que estrelas tinham direito. Apenas alguns meses depois ele finalmente foi alçado a essa posição pela Paramount Pictures. O filme se chamava "Bandoleiro Romântico" (Arizona Bound). Era um faroeste de matinê, mas com toques de romantismo, como bem deixava claro o título da produção no Brasil. Cooper interpretava um cowboy chamado Dave Saulter. Ele vagava pelo velho oeste até chegar em uma pequena cidadezinha (velha fórmula dos filmes de western americano). 

Para seu azar chegava na cidade no mesmo dia em que estava sendo roubado do banco local um carregamento de ouro em uma diligência. Claro que tanto ouro assim chamaria a atenção de ladrões e bandoleiros. Cooper assim assumia a figura do mocinho bem intencionado, que salvava inclusive a sua nova amada, interpretada pela bela Betty Jewel, até que conseguisse recuperar o ouro roubado, prendendo todos os bandidos. Filme de praxe, bem de acordo com o que era produzido naqueles tempos. Acabou fazendo sucesso de bilheteria, firmando Cooper como nome comercialmente viável para os estúdios. Nascia mais um cowboy heroico das telas.

Em Hollywood, era normal a assinatura de um contrato com os estúdios com prazo de validade de 7 anos. Esse contrato poderia ter cláusula de exclusividade ou não, dependendo da habilidade do agente de cada ator. Ele assinou um contrato desse tipo com a Paramount e outros ao longo dos anos pois seus filmes renderiam ótimos bilheterias, se transformando em um astro de cinema da velha Hollywood.  Com o dinheiro, comprou uma bela mansão em Beverly Hills, um bairro que se tornaria exclusivo de pessoas que trabalhavam no mundo do cinema. Ele mandou aumentar a piscina para o padrão olímpico, pois adorava nadar. Também construiu um estábulo nos fundos da casa, pois investiu em sua própria criação de cavalos. Não confiava muito nos cavalos de estúdio e tinha medo de sofrer algum acidente mais sério nas cenas de ação, assim começou a ter sua própria criação de cavalos puro-sangue, todos importados da Arábia Saudita. Nessa casa ele viveria até o fim de seus dias. 

Os atores trabalhavam muito. Mal saíam das filmagens de um filme e já estavam em outro. Tudo feito de forma industrializada, a toque de caixa. Logo após "Bandoleiro Romântico" Cooper atuou em um drama chamado "Filhos do Divórcio". Ele não era o ator principal do filme (coube essa honra à atriz Clara Bow), mas tinha importância dentro da trama pois interpretava Edward D. 'Ted' Larrabee, um homem cujo coração estava dividido entre duas mulheres, uma delas o amor de sua adolescência. Seu personagem também tinha nuances psicológicas interessantes para um filme dessa época, pois no fundo não queria se casar por causa dos problemas que vivenciou como filho no casamento fracassado de seus próprios pais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Sua Última Façanha

Excelente momento da filmografia do ator e astro Kirk Douglas. O roteiro foi baseado no livro "The Brave Cowboy", escrito por Edward Abbey e conta a estória de um velho cowboy chamado John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Considerado um sujeito de um tempo que não existe mais, ele resolve enfrentar um policial veterano, o xerife Morey Johnson (Walter Matthau), após ser considerado um fugitivo da lei. Assim ficam lado a lado dois mundos diferentes, o velho oeste e o mundo moderno, com seus carros, helicópteros e tecnologia. Enquanto o velho cowboy luta para sobreviver com seu cavalo e seu antigo modo de vida. Sem dúvida é um grande filme! Resolvi assistir depois de tomar conhecimento de que esse era o filme preferido do próprio Kirk Douglas. Depois de conferir devo dizer que concordo com o ator em gênero, número e grau. Embora tenha estrelado vários e vários clássicos ao longo de uma das carreiras mais produtivas e bem sucedidas em Hollywood não há em sua extensa filmografia nenhum outro filme que tenha tanto coração e sentimento como esse. Um roteiro que lida de maneira primorosa com o fim de um amado estilo de vida que definiu vários dos grandes heróis da história dos EUA.

O grande mérito aqui é que Douglas, o diretor David Miller e principalmente o roteirista Dalton Trumbo, conseguiram reunir vários gêneros em um só filme, com resultado bem acima da média. Se pode pensar que "Lonely Are The Brave" é apenas um western temporão, de um estilo que já estava se tornando fora de moda, mas isso é uma visão simplista. O filme passeia tranquilamente por vários estilos e gêneros, tangenciando os filmes policiais, do tipo "on the road" e até mesmo os dramas românticos, isso sem perder a direção em momento algum. Passado no moderno oeste americano, somos apresentados ao personagem John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Ele é um velho cowboy que tenta manter vivo seu estilo de vida em um mundo que definitivamente nada mais tem a ver com o passado. No meio de autoestradas, aviões a jato e carros modernos, Burns tenta manter de alguma forma intacta a figura mitológica do cowboy do velho oeste. Claro que agindo assim ele logo encontra problemas com a lei, com a sociedade e com a mentalidade moderna. Os jovens o acham uma peça de museu, mas ele insiste em manter sua dignidade intacta.

Duas coisas impressionam no filme: O lirismo subliminar do roteiro e a eficiente caçada final a Burns em uma montanha rochosa íngreme. Algumas cenas são as melhores que já vi. Fiquei imaginando como devem ter sido complicadas as filmagens naquela região no Novo México, até porque subir com um cavalo em um ambiente daqueles é quase impossível (em muitos momentos fiquei realmente receoso do cavalo e do dublê de Douglas caírem montanha abaixo, tal o perigo das tomadas feitas). Em conclusão podemos afirmar que "Sua Última Façanha" é uma excelente crônica sobre a mudança de costumes que se sucedem de uma época histórica para outra. O velho mito que se depara com os desafios da modernidade. Em vista de tudo isso certamente vai agradar aos fãs de western e também aos que querem conhecer melhor essa fase de mudanças profundas no modo de viver dos mitos do passado. Pura nostalgia, de grande qualidade artística. Vale muito a pena conhecer, certamente.

Sua Última Façanha (Lonely Are the Brave, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Universal Pictures / Direção: David Miller / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Kirk Douglas, Gena Rowlands, Walter Matthau, George Kennedy / Sinopse: Velho cowboy, prestes a se aposentar, se recusa a abandonar seu amado estilo de vida do passado. Após problemas com um xerife ele precisa sobreviver a uma intensa caçada humana. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Kirk Douglas).

Pablo Aluísio.