domingo, 9 de junho de 2024

Ringo e a Montanha Dourada - Parte I

Cap. I - O Sol do Deserto
Se havia algo que Ringo Sinclair odiava em sua vida de pistoleiro era cavalgar no deserto, debaixo de sol escaldante. O suor descia pela sua face, seus braços e mãos estava molhados. E seu cantil estava com um nível perigosamente baixo de água potável. Aquele deserto era realmente infernal. Passou a se sentir um pouco mal, por causa do calor excessivo. Parou seu cavalo e olhou para trás, por cima de seus ombros cansados. Avistou ao longe uma dança de abutres no céu. Cercavam a próxima carcaça que iriam devorar. Ringo sabia do que se tratava. Era o corpo do homem que havia acabado de matar.

Vida de pistoleiro tem seus dissabores. Esse homem que jazia no deserto, que começava a exalar cheiros de decomposição fétida, estava em seu encalço há dias e dias. Queria vingança. Ringo havia matado seu pai em um crime encomendado. O serviço havia sido feito, o pagamento estava em sua calça jeans. Porém, como ele já estava acostumado, todo serviço de morte encomendada trazia seus efeitos colaterais, entre eles o desejo de vingança dos parentes mortos. E para sanar esse problema Ringo tinha que matar mais de uma vez. Já havia perdido a conta de quantos parentes havia matado ao longo de sua vida. Sempre que algum desses "amadores" surgiam em sua frente, tremendo com revólver em punho, sabia que teria que matar de novo - e dessa vez sem receber nada pelo serviço. Pura legítima defesa.

Esse último que havia surgindo na frente de Ringo não passava de um "engomadinho". Ringo procurava economizar munição nessas ocasiões, afinal balas custavam caro e não deveriam ser desperdiçadas em momentos "sem lucro". Tudo deveria gerar lucro, essa era a filosofia de vida de Ringo em sua trajetória de pistoleiro. E ele colocava tudo na conta. O serviço de morte era friamente calculado por Ringo. Ele colocava na conta não apenas o preço da munição, mas também os riscos que iria correr, a quantidade de milhas que deveria cavalgar após matar, o preço dos hotéis e pousadas que iria pagar para fugir, os oficiais da lei que teria que subornar, etc.

Depois de cavalgar por várias horas, Ringo avistou ao longe uma grande construção de madeira. Na frente da porta uma grande placa, um tanto rústica, escrito "armazém". Quem recebeu Ringo na frente da construção foi uma jovem simpática chamada Kate Bender. Ela morava na estalagem ao lado de seu irmão, seu pai e sua mãe. Eram imigrantes alemães. Ringo inicialmente só queria comprar alguns mantimentos para conseguir chegar na próxima cidade, mas foi convidado por Kate para passar a noite ali, se assim desejasse.

Kate Bender ganhou a confiança de Ringo. Afinal ela era muito simpática, sempre falando, dando sorrisos, falando coisas agradáveis. Era bem falante, bem comunicativa, bem sociável. Bonita, bem penteada, vestida e com todos os dentes na boca, era bem diferente das mulheres que Ringo havia encontrado nas últimas semanas. Geralmente ele encontrava mulheres rudes, mal encaradas, forjadas no trabalho pesado dos pioneiros. Isso criava uma completa falta de feminilidade nessas jovens senhoras, que logo se tornavam idosas precoces. Com Kate nada disso acontecia. Ela era puro charme, pura beleza feminina. Encantado pela música da sereia, Ringo desceu de seu cavalo e decidiu que sim, iria passar a noite naquela estalagem. Ele estava mais interessado em Kate do que em qualquer outra coisa. 

Pablo Aluísio. 

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